sábado, 27 de novembro de 2010

Bacia do Mampituba

Debret - A entrada pelo Norte - Rio Mampituba

P. Raulino Reitz

 ...... Abrange todos os rios ao sul da pequena serra que se destaca da Serra Geral, com o nome de Serra da Peroba, ao sul da Serra da Pedra e percorre o município de oeste a leste. A maior zona lacustre do município, e também do estado é tributária da bacia do Mampituba.
......Rio Mampituba - ou Mambituba. Nasce com o nome de Rio Josafá, que desce e corre entre os itamimbés da Serra Pedra Branca ao rumo de NNW até chegar à curva que faz a citada serra com a do Fachinalsinho. Daí, toma ele o nome de Rio Roça da Estância, até o afluente do Rio Facão ao rumo do norte, passando então a denominar se Rio da Praia Grande, que conserva até banhar a vila desse nome, vindo para NE depois da volta que fez.
......Na Praia Grande bifurca se, seguindo um braço para NNE, e outro para SE. O primeiro toma o nome de Rio Canoa. O segundo, que apezar de menos água, continua fazendo o limite interestadual. Torna o nome de Rio Verde, outrora também chamado Rio Glória, e banha a vila de Pirataba, que já pertence ao Rio Grande do Sul. Antes de receber o Canoa recebe pela direita o Rio Monteiro, que é o sangrador da lagoa do Forno. Na junção com o outro braço, o Rio Canoa, recebe o nome Mampituba. E' rio fartamente piscoso. Sustenta uma forte colônia de pescadores, cuja sede está em Mampituba (Passo de Torres). Ambas as margens do rio são densamente habitadas. Boiteux, profundo conhecedor da nossa história, lembra um episódio, que é de pouca monta, mas traduz o espírito mesquinho e antipatriótico que existia entre as pessoas incultas destas partes dos dois estados limítrofes. "Foi o Mampituba teatro de muitas rixas entre os habitantes das margens opostas, porquê, estando o Mampituba antes de ser definitivamente incorporado à margem esquerda a Santa Catarina, não queriam os da direita que os da oposta pescassem no dito rio, muito principalmente na época da entrada do peixe. Felizmente veio o bom senso acabar com tal modo de proceder absurdo. Menos egoístas e mais acertados eram os habitantes da parte norte pois dando se o fato do rio Criciúma de como os demais abrir barra mais ao norte, fazia com que os habitantes da parte sul, se vissem distantes da nova barra aberta em zona a eles não pertencentes e por isso, impedidos de fazer suas pescarias, entrada, dos cardumes de tainhas. Pois bem, para que não houvessem rixas e inimizades, de acordo, a meia distância, para ambos , abriram uma nova passagem para o referido rio".
....continua em PDF:
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P. Raulino Reitz
Paróquia de Sombrio
(Ensaio de uma monografia paroquial) Progresso religioso e social 1948
Nota: Foi mantida a ortografia do original.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A EVOLUÇÃO GEOLÓGICA DA REGIÃO DE TORRES

A região de Torres oferece ao visitante feições naturais não apenas de rara beleza, mas também muito interessantes do ponto de vista geológico. Neste breve trabalho, pretendemos mostrar, em largos traços, a constituição do subsolo desta porção do estado, detendo-nos um pouco mais nas formações geológicas aflorantes, já que são estas as acessíveis ao olhar e à admiração dos moradores e dos muitos visitantes que a cidade recebe todos os anos.
A geologia da região foi estudada e pesquisada nas décadas de 1970 e 1980 pela Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, que efetuou na área prospecção para carvão e outros estudos.

A COLUNA ESTRATIGRÁFICA DA REGIÃO DE TORRES

Dentre os vários furos de sonda executados pela CPRM nos arredores da cidade de Torres, selecionamos a que tem a sigla A T -08-SC, executado em dezembro de 1977, a 2.5 Km ao norte da cidade, já no Estado de Santa Catarina, portanto.
Esse furo atingiu 952.40 m de profundidade, sendo interrompido em meio a um espesso intervalo de rocha ígnea, mas quando estava já próximo ao embasamento cristalino, ou seja das rochas mais antigas do local.
...Continua em PDF:


Pércio de Moraes Branco
Historiador e Geólogo da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM,
Porto Alegre, RS

domingo, 26 de setembro de 2010

As origens de Torres

O alemão Herrmann Rudolf Wendroth, artista e soldado, desenhou as “torres” estratégicas em 1851

Por suas peculiaridades geográficas, o sítio onde hoje se ergue a cidade de Torres era conhecido desde o início da ocupação do território ao sul de Laguna. À margem do Mampituba e tendo como referência as “torres” junto ao Atlântico, o local era mencionado por viajantes como ponto de pouso ou como indicativo de rota.
Foi ali que, em 1777, o general Diogo Funck, sueco a serviço de Portugal, ergueu uma fortificação na subida do atual Morro do Farol para enfrentar os castelhanos que, depois de terem dominado Desterro, ameaçavam invadir a Capitania avançando para o sul.
Foi por Torres que, em 4 de junho de 1820, o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1859) ingressou na capitania do Rio Grande. Na guarda de Torres, a comitiva do cientista pagou pedágio. “... chegamos aos montes que têm esse nome (Torres); um relvado muito rente ao chão, um pouco mais elevado que a praia, estende-se até à beira-mar, acima do monte que fica mais ao norte”. Saint-Hilaire refere que, naquele momento, havia projeto “de localizar em Torres a sede de uma paróquia”. Já estava ali o madeiramento necessário para a construção da igreja, dedicada a São Domingo das Torres.
Pela lei 1.152, de 21 de maio de 1878, Torres foi desmembrada de Conceição do Arroio (Osório).

Túnel do tempo
Almanaque gaúcho
Olyr ZavasCHi

sábado, 25 de setembro de 2010

Auguste de Saint-Hilaire

Viagem ao Rio Grande do Sul
Auguste de Saint-Hilaire
1779-1853

TORRES, 4, segunda-feira, 4 de junho de 1820. – Sempre areia e mar. Enquanto nos dias anteriores só avistávamos uma praia esbranquiçada que se confundia com o céu na linha do horizonte, hoje, ao menos, deparamos dois montes denominados Torres, por que realmente avançam mar adentro, como duas torres arredondadas.
Para as bandas do oeste, recomeçamos a avistar a grande cordilheira que há muito tempo não víamos.
Cerca de uma légua daqui, encontramo-nos à margem do rio Mampituba (pai do frio), que, atravessando a praia, se lança no mar, após separar a Província de Santa Catarina da Capitania do Rio Grande; passamo-lo do mesmo modo que o rio Araranguá. É também à guarda de Torres que se paga o pedágio. Continuando a viagem, chegamos aos montes que têm esse nome; um relvado muito rente ao chão, um pouco mais elevado que a praia, estende-se à beira-mar, acima do monte que fica mais ao norte.
Como há projeto de se localizar em Torres a sede de uma paróquia, começaram a construir aí uma igreja, da qual até agora existe apenas o madeiramento. Depois de passarmos por essa igreja, chegamos a um forte, cuja construção está sendo ultimada neste momento e junto ao qual se acha o alojamento dos soldados do posto e o do alferes que os comanda. Estas construções estão situadas no lado ocidental do monte, local donde gozei um panorama que se me afigurou mais encanta dor do que efetivamente era, por causa da monotonia dos areais áridos, batidos pelas ondas.
Quase ao pé do monte estende-se, paralelamente ao mar, um lago de águas tranqüilas e cercadas de altas ciperáceas; do outro lado,crescem matas em terreno plano. À direita vêem-se ainda areais puros e, por fim, o horizonte limitado pela grande cordilheira, cujo cimo forma um imenso planalto.
Chegado à residência do alferes, mostrei-lhe meus documentos, sendo muito bem recebido e hospedado numa peque na casa, onde ficarei sozinho e donde se avista o lago. A construção do forte, a que me refiro acima, estava em andamento, embora não se acreditas se na invasão espanhola. Mas desde Laguna até aqui, a costa é tão baixa e de tal modo castiga da pelas ondas, tão perigosas para as pequenas embarcações, que nem se podia imaginar que os inimigos delas ousassem desembarcar.
De qualquer modo, o forte está sendo levado adiante, voltado para o norte e podendo ser dotado de quatro peças de artilharia.
Empregaram-se em sua construção cerca de trinta prisioneiros, tomados a Artigas. À exceção de apenas um, os de mais são índios. Entretanto a maior parte revela traços de sangue espanhol. Uns vieram das Missões, outros de Entre-Rios e do Paraguai. Parece que só o gosto pela pilhagem os havia reunido como a tantos outros, sob a bandeira de seus chefes.
Esses homens são de estatura baixa, peito exageradamente largo, rosto de um bistre carregado, cabelos negros e lisos, pescoço muito curto, fisionomia verdadeiramente ignóbil. O alferes fez o elogio de sua docilidade.
Alguns haviam fugido com o propósito de voltar para os pagos, atravessando a grande cordilheira; mas, encontrando na passagem da serra obstáculos insuperáveis, voltaram e foram capturados. Todos conhecem o espanhol e a língua geral.
Notei, porém, que, quando falam esta última língua, utilizam vocábulos às vezes diferentes dos que se acham consignados no dicionário dos jesuítas.

TORRES, 6 de junho. – Fiquei de tal maneira fatigado pelas duras jornadas anteriores, que exigi de meu guia a permanência aqui, por um dia. Aproveitei para pôr em ordem minhas coleções e passear pelos montes de nominados Torres.
Tendo já descrito uma parte que fica ao norte, vou concluí-la. É alongado, desigual e quase totalmente coberto de relva; o avanço que faz para o mar é arredondado como uma torre; oferece às ondas uma muralha de rochedos cortados a pique e termina por um terraço onde vegeta uma erva rasteira. Pelos flancos do monte crescem, em alguns lugares, duas espécies de  cactus, um grande eryngium, bromeliáceas e arbustos, entre os quais reconheci, com surpresa, a mirtácea denominada pitanga, que nunca tinha visto nesta costa.
O mais meridional dos dois montes principais está situado a algumas centenas de passos do primeiro; avança bastante pelo mar adentro, porém não apresenta forma regular e quase por toda parte é coberto de relva. Do lado do mar, igual mente escarpado, exibe uma chanfradura profunda, onde as ondas vêm quebrar-se contra as negras rochas.
À entrada dessa chanfradura, do lado norte, há uma enorme caverna onde dificilmente se entraria, por causa do mar e da direção vertical dos rochedos.
Além desse último monte, vê-se ainda um terceiro, muito me nos importante que os dois outros, com o feitio de uma albarda, sendo quase todo coberto de relva. Na frente, um roche do exatamente paralelo ao seu corte, configurando uma inacessível muralha íngreme.
É do primeiro dos três montes que se frui o mais agradável panorama; pois dele se avista, ao mesmo tempo, o alto-mar e o lago de água doce de que falei ontem.

Nicolau Dreys

Notícia Descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro

Nicolau Dreys
1839

A praia do Mampituba está coberta, até quase uma légua (6,6 km) ao Norte da boca do rio, de abundantes madeiras secas, de árvores inteiras evidentemente trazidas pelo rio, e arrancadas de suas margens ou pelas águas, ou pelos ventos, certamente os ventos Sul, os mais impetuosos nessas regiões; esse vasto ossuário vegetal, essa multidão de esqueletos lenhosos, batidos das marés, que já os têm enterrado em grande parte debaixo das areias, não deixam de ser pitorescos; afetam todas as atitudes; alguns estão em pé, parecen­do desafiar o poder das águas e dos ventos; outros, já meio sepul­tados, conservam para fora grandes ramificações, como braços es­tendidos para o Céu; a maior parte está inclinada no horizonte sob vários ângulos, e todos esses- paus, entre os quais se notam al­guns de tamanho gigantesco, apresentam uma cor denegrida, como se houvessem sido expostos à ação do fogo: efeito sensível da absorção do oxigênio, que operou na superfície uma sorte de combustão.

Em presença depósito que se observam geralmente na embocadura de  quase todos os rios dessa costa, sempre em proporções relativas à extensão de seu curso  e à abundância dos matos de suas ribeiras, o viajante não pode deixar de afigurar-me assistindo à formação dos primeiros elementos fóssil combustível: dia virá em que as aluviões do rio, tendo já repelido o Oceano para longe de suas atuais barreiras, virão superpor ao solo presente novas nateiras; o rio mesmo, seguindo o Oceano na sua retirada, irá despejar suas águas a distância mais remota, enriquecendo ou prolongando o terreno intermediário de seus tribu­tos seculares; então uma mina de carvão de pedra abrir-se-á nesse lugar para as gerações futuras, quando a tradição do mecanismo de sua formação já se tiver apagado entre elas.