sexta-feira, 10 de junho de 2011

As Torres


A uma légua, (6,6 Km), mais ou menos, da foz do rio Mampituba, a praia que desde o morro de Santa Marta tem corrido em dunas arenosas, acha-se interrompida por um fenômeno geológico, que desperta a imaginação fatigada pelo espetáculo contínuo de uma monótona aridez: no meio desse deserto nublado de areia e d’água, aparece repentinamente um monumento natural dos mais curiosos: na borda do oceano levantam-se verticalmente três massas cilíndricas, as quais, em razão de sua forma, foram chamadas: as Torres; essas massas, aparentemente formadas de gneiss, batidas, e arruinadas incessantemente pelas ondas, em que se assentam da parte de Este, oferecem, à sua circular sobre o Oceano, rochas salientes em agulhas verticais, aderentes por sua base ao corpo mesmo de massa inteira, e que parecem os restos de ma cortiça exterior, já de muito tempo roída pelo mar.

            Esses paralelepípedos lapídeos, sobranceiros ao Oceano, fazem corpo por sua face oposta com as terras adjacentes, inclinando a Oeste suas sumidades, coroadas de verdura, até as pôr ao nível com o plano superior do terreno circunvizinho: a altura das Torres parece variar entre 70 a 100 palmos (15,40 m e 22 m); isoladas, entre si diferem  também de diâmetro, mais ou menos, de 20 braças, (44 m); é escarpada a Este e ao Sul, mas ela projeta ao Norte, na direção da praia, um plano inclinado formado de areia, que a faz, facilmente acessível desse lado; no alto daquela Torre, e sobre o terreno que prolonga sua sumidade a Oeste, estabeleceu-se a guarda e povoado das Torres, espécies de fortaleza natural na fronteira da Província.
            A 60 braças, (132 m), mais ou menos, da primeira Torre, levanta-se a segunda, menor diâmetro; e menos 15 braças, (33 m) desta aparece a terceira, que se acha quase ligada com a precedente por um rochedo piramidal intermediário, da mesma substância, e de forma assaz regular. O cume das duas últimas torres é coberto de uma belíssima relva; inclinando-se brandamente a Oeste até ao nível da estrada, que passa por trás e junto daqueles curiosos edifícios da natureza.
            Uma légua (6,6 m) ao Sul das Torres acha-se o outeiro verdejante de Itapeva, igualmente encostado a uns rochedos baixos, que o defendem do lado do mar: esse é o limite do oásis ao Sul, e o último suspiro de uma natureza acidentalmente aprazível; além, continua a eterna e triste cena das areias e da esterilidade.


Nicolau Dreys
Notícia Descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro.
1839