sábado, 28 de abril de 2012

Araranguá quer ser anexado ao Rio Grande



O TORRÊNSE

Ano I – Tôrres – 1º Quinzena de Abril de 1949 – R. G. do Sul – N. 6
Araranguá quer ser anexado ao Rio Grande

O prospero município vizinho tendo derrotado os Ramos nas últimas eleições teve como consequência, seu território reduzido a uma nesga quase inútil de terra.

Pela primeira vez na nossa história, será pedida a aplicação do artigo 2º da Constituição Federal.


De regresso da Capital da república aonde foram expor a pretensão da desanexação de ARARANGUÁ do Estado de Santa Catarina, passaram por essa cidade Affoso Ghizzo e Artur Campos, respectivamente Prefeito Municipal e presidente da Câmara de Vereadores desse município.
A propósito do assunto, inédito em nosso país, a reportagem do “O TORRENSE” procuraram ouvir os líderes desse movimento, os quais com simplicidade que lhes é peculiar, relataram a esperança de se tornar realidade essa aspiração.
Sob todos os aspectos justifica-se nossa aspiração, diz o Sr. Affonso Ghizzo; historicamente porque, conforme demostrou Oliveira Viana foi através da faixa de Araranguá que penetrou uma grande leva de povoadores do Rio Grande do Sul. Geograficamente Araranguá está encravada no território gaúcho, limitando com os municípios de Bom Jesus, São Francisco de Paula e Torres e apenas com um município de Santa Catarina que é Criciúma.
Economicamente, todo o comércio de importação se faz por intermédio de firmas porto-alegrenses, quanto a exportação se destina ao Rio e portos do Norte.
Socialmente também estamos ligados à Porto Alegre, que hospitaliza os nossos doente e abriga os desamparados da sorte.
Ainda agora consegui quatro escolas rurais, bem como a estrada que liga Araranguá ao passo José Inácio.
O Sr. Artur Campos assim se manifestou sobre o palpitante caso;
“A população de Araranguá foi levada a esse gesto extremo de repudio ao Estado a que pertence administrativamente devido á insuportável situação criada pelo governo do Estado com odiosas perseguições cuja única origem reside na vitória do partido oposicionista, a UDN, no último pleito municipal. Antes mesmo dessa vitória, já as ameaças eram feitas com a intenção de amedrontar os eleitores e os candidatos oposicionistas.
Realizadas as eleições e verificada a vitória da UDN, concretizaram-se as ameaças da polícia a mando do governo do Estado, que está nas mãos do PSD. O partido situacionista, orientado pelo Sr. Nereu Ramos, estabeleceu um clima de intranquilidade em Araranguá. Não há segurança e as ordens emanadas dos poderes públicos são controladas pelos representantes legais do governo do Estado no Município, e seus distritos.
As obras públicas, como hospitais e escolas, estão paralisadas por determinação do governo de Florianópolis, dominado pela oligarquia dos Ramos.
Não satisfeito, o situacionismo promoveu o desmembramento do município criando-se o novo Município de Turno.
A zona produtiva por excelência passou a constituir o último município, ficando para o de Araranguá a zona arenosa das praias, as zonas alagadiças, as lagoas e alguma terra cuja produção de maior vulto é a mandioca.
Pretende-se, com isso, estrangular, economicamente, o município de Araranguá.
Atos como esse são, aliás, condenados pelo presidente da República, na sua Mensagem ao Congresso Nacional, apresentado na abertura da atual gestão legislativa. Lê-se com efeito, a pagina dez do referido documento: “O que se afigura inadmissível, e falo-vos com tristeza, é que a uma experiência como a do fortalecimento financeiro dos Municípios, que pode ser grandemente fecundada para o país, se retirem as características revitalizadoras, dessangrando-os em movimentos de cissiparidade puramente eleitoral”. É o caso típico de Araranguá, inspirado pelo Nereu Ramos, vice-presidente da República, que pretende ser o candidato das forças democráticas do país à sucessão do general Eurico Dutra...”
Enfim, em Araranguá estamos acostumados a esperar tudo do Rio Grande e nada de Santa Catarina! Por isso mesmo 80 por cento da população é pela anexação ao Rio Grande. Que venha, pois, o plebiscito que nos foi negado pela assembleia Legislativa de Santa Catarina!”.

Nota da redação. O artigo 2º da Constituição de 1946 reza:
“Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros ou formarem novos estados, mediante a voto das respectivas assembleias legislativas, plebiscito das populações diretamente interessados e aprovação do Congresso Nacional”. Com o efeito a Câmara Municipal e o Prefeito de Araranguá, município do Estado de Santa Catarina, solicitaram o seu desmembramento daquele Estado e a anexação ao Rio Grande do Sul!

Direção de Moacir Indio da Costa e H. S. Padilha. Quinzenário Independente.

Um comentário:

  1. Camarada Zaga,
    pelas características geográficas quem deveria ser anexado na época seria Torres a Santa Catarina, que possui um relevo acidentado em toda sua orla, sendo considerada uma das mais belas do mundo, da mesma forma que o Rio Grande do Sul possui uma das orlas mais retilíneas do planeta.
    Penso que, além das suas valiosas reconstituições da história deste glorioso pedaço de chão, deveríamos nos dedicar a implantação do COMITÊ DE BACIAS DO RIO MAMPITUBA, uma necessidade urgente para disciplinar o adequado uso dos recursos hídricos.
    Aguardarei vocês aqui em casa para saborear um papa terra frito e cozido, bebendo um vinho e umas heinekens bem geladas.
    Abs
    Tadeu Santos
    OBS. Publicarei algo a respeito na minha próxima coluna...

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