sexta-feira, 25 de maio de 2012

Quanto ao porto de S. Domingos de Torres



Há um século no Correio do Povo

Pesquisa e edição: DIRCEU CHIRIVINO I chirivino@correiodopovo.com.br 

No dia 8 de abril de 1912 não houve edição do Correio do Povo. Na época o jornal não circulava às segundaS-feiras

Tramandahy- Torres
2' parte

• Quanto ao porto de S. Domingos de Torres, é relativamente facil a sua feitura.

Basta um perfunctorio exame da situação daquellas tres montanhas denominadas Torres, para se compreender que em éras remotas o mar já as circundou por completo.

A torre do norte, onde está situada a pequena villa de Torres, poderá ser facilmente circundada por um canal de 60 metros de largura com uma profundidade de 10 metros.

Defrontando ambas as bocas do canal, a dous kilometros, mais ou menos de distancia, e numa situação mais ou menos equidistante de ambas as entradas, existe a ilha dos Lobos, extenso rochedo de pedras, à flór das ondas, servindo de quebra mar ou rompe alas, collocado ali pela natureza, para tornar ainda menos açoitada aquella costa, já aliás defendida pela grande curva que vem do saliente cabo de Santa Martha na costa de Santa Catharina.

Um pharol na ilha dos Lobos e dous mais, um em cada cabeça dos molhes do canal, permitirão a entrada franca á noite, a qualquer navio que demande Torres.

Uma vez dentro do canal, está o navio ao abrigo de qualquer temporal, havendo o cáes do lado de Torres ou do lado de Porto Alegre para respectiva atracação, conforme o destino de carga ou de  passageiros.Este canal, cuja feitura é facil, não custará mais de 12 a 14 mil contos. Os molhes que serão pouco extensos, visto ser essa costa ahi muito profunda, poderão importar em 15 mil contos.
O cáes propriamente dito, com todas as suas installações de guindastes, armazens, etc. custará, também, cerca de 15 mil contos.

De modo que o porto de Torres, com o mais completo exito, e num praso nunca superior a 6 annos, custará ao Estado do Rio Grande do Sul a soma total de 60 miJ contos, que reputamos quantia exígua, attento aos resultados presentes e futuros que esse notavel melhoramento trará para toda a nossa expansão economica e commercial, não só com os Estados da União, como com os paizes  extrangeiros, americanos ou europeus.

 
Qualquer engenheiro capaz e observador, que examinar o que fica expendido neste artigo, reconhecerá a profunda verdade de tudo quanto aqui affirmamos.

Quem escreve estas linhas, conhece de visu e attenta observação a grande enseada de Torres e o traçado da futura estrada de ferro.

O porto artificial de Torres, conforme acima está delineado ou descripto, terá a forma de uma curva parabolica cuios extremos ao norte e ao sul da Torre do norte serão as entradas para os navios que ahi aportarem.

Seu desenvolvimento será de dous  kilometros aproximadamente, havendo, portanto quatro ouilometros de cáes para as atracações respectivas, fóra pequenas docas para embarcações miudas. As manobras serão facitlirnas. e as atracações tambem, uma vez o barco dentro do canal.

Segundo promessa formal do exmo. dr. Borges de Medeiros, em entrevista que concedeu ao director desta folha, o seu governo cogitará da realisação deste magno problema para o Rio Grande do Sul.
Poderia entrar em maiores detalhes, mas reservo para outra occasião o desenvolvimento e a demonstração pratica das idéas que aqui ficam rapidamente expendidas.

Tramandahy, março de 1912
Cassius Lecomte
Correio do Povo, 22/3/1912